19 de agosto de 2016

MENINAS DE OURO - EVGENIA KANAEVA - parte 2

LONDRES 2012

Londres veio com a promessa de ser a mais tecnológica e conectada das sedes dos jogos olímpicos. Agora temos um mundo conectado e a internet trazia todos os resultados em tempo real. E permitia assistir as modalidades que a Tv não transmitiria. Trilha musical impecável e com participações de o 007 James Bond e Mr. Bean. O melhor ponto positivo desses jogos foi que todas as nações tinham mulheres participando da delegação.


  Na ginástica rítmica a grande mudança foi no código de pontos (como foi contado no capítulo anterior), privilegiando o artístico do que a dificuldade. A nota também teria uma mudança: a nota da parte artística seria somada a execução e dificuldade, chegando a um total de 30 pontos. Jamais alguém chegaria a essa marca. Sobre o 30 perfeito, veja bem...


CONTINUANDO COM EVGENIA KANAEVA...


Ela nunca concordou muito com essas novas regras. Acreditava que ginástica não era dança como a Federação Internacional queria. Mas continuou na ginástica rítmica, sua grande paixão. Essa "política" serviria de grande motivação e mais tarde ela comentaria sobre isso. A Federação Russa compartilhava da mesma ideia.

Com o novo código de pontos em vigor em 2009, Kanaeva teve que mudar drasticamente o estilo de suas séries e treinar muito para ficarem perfeitas. Mas teve um preço: lesões e cansaço no início de temporada e a recuperação era mais lenta.


Problemas no joelho e na coluna deixaram ela de fora em alguns torneios de menor importância e sempre era dúvida se participaria dos campeonatos. Nunca uma atleta reserva era tão mencionada por causa de Evgenia Kanaeva.


Se a intenção da regra era equilibrar a disputa, ela foi por água abaixo. Zhenya ganhou ouro na geral em todos os aparelhos no campeonatos Europeu. Repetiria o feito no Grand Prix. Ganhou tudo de novo na Universíade (olimpíada das universidades ou estudantes), ajudando a Russia a terminar em primeiro na competição, com direito a cumprimentos do Presidente da Rússia. E novamente, no Mundial, ouro na geral, por aparelhos e por equipe. Quebrou o recorde de Oxana Kostina (em 1992) de maior número de medalhas de ouro em único campeonato, com 6 medalhas no total. E outro telegrama do presidente da Rússia parabenizando.

Em 2010, nada mudou. Ouro na geral no Europeu e ouro na geral e por aparelhos no Grand Prix. No Mundial em Moscou: ouro na geral e por equipe, ouro na bola, no arco e prata na corda. Daria Dmitrieva ficou com o ouro na corda.


Chega em 2011 e parecia ser mais uma temporada fácil com domínio total. Mas foi complicado para ela com problemas de lesões e doença. No Grand Prix em Moscou mais um ouro na geral e por aparelhos. Após o lançamento das maças, uma delas acerta em cheio o seu pulso. O primeiro susto. Maças são verdadeiras armas perigosas, Alina Kabaeva que o diga.


Na etapa de Pesaro ela fica com a prata (!?!?) e o ouro com Daria Dmitrieva na geral. Disse que estava doente, com mal- estar. No Europeu, foi ouro no arco e na bola, e prata na fita, perdendo para Liubov Charkashyna da Bielorrússia.


Na final do Grand Prix, em Brno, ouro na geral e em todos aparelhos. E Kanaeva conseguiu o que todos achavam que seria impossível: nota 30 perfeito na fita. 10 no artístico, 10 na dificuldade e 10 na execução. Ninguém mais conseguiria fazer isso. E fechou com ouro em tudo no Mundial e na Aeon Cup. Mas problemas no joelho e nas costas, além de ficar doente fez com que não participasse de vários campeonatos. Isso fez cair no ranking e permitiu o crescimento de suas rivais Daria Dmitrieva e Daria Kondakova.


Para 2012, Kanaeva viria com todas suas séries novas. Enquanto ela fazia os ajustes, Daria Dmitrieva ganharia o Grand Prix Moscou, Kanaeva ficaria com a prata mas ganharia na disputa por aparelhos. Venceu a etapa seguinte. Ficou doente em uma das etapas da Copa do Mundo e retornou na etapa seguinte da copa. Ganhou tudo novamente e só não ganhou na fita como também não se qualificou para esta disputa, por causa do limite de atletas por país. Nunca havia acontecido isso em sua carreira. Depois disso, retomou seu "mantra" de estar sempre focada e não se preocupar em errar.



Antes dos jogos, teve o Europeu onde ela ganhou pela terceira vez seguida, com ouro em tudo, repetindo seu recorde do ano anterior de 6 medalhas.


NAS OLIMPÍADAS

A grande favorita era Kanaeva, ganhou ouro em todos campeonatos que disputou e vinha com uma infinidade de medalhas para Pequim. Todos esperavam que ela ganharia tudo novamente nas olimpíadas afinal. Como ela disse em entrevista há quatro anos atrás, as olimpíadas é um campeonato diferente de tudo. Mas a sucessão de lesões e doenças deixaram um ar de dúvida. E também não era favorita sozinha: Daria Dmitrieva que evoluiu muito nos últimos anos e Liubov Charkashyna também eram favoritas.


E ficou provado. Nas qualificatórias, o susto: Kanaeva comete dois erros sérios no arco. O primeiro, após o lançamento do arco, onde ele caíria de lado no carpete passando o pé para dentro e faria o giro do arco com a perna. Só que ela pisou no arco e arrastou ele no carpete. O segundo, após outro lançamento só que o arco vem todo torto na sua mão e ele acaba escapando, mas ela segura a tempo de evitar a saída do carpete. Nunca havia errado tanto em uma série. E pela primeira vez em 3 anos, ela ficaria de fora da liderança em um aparelho, acabando em segundo. A primeira foi sua companheira de equipe, Daria Dmitrieva.


Se você é favorita nas olimpíadas, fica a dica: cuidado com o arco, eles ficam traiçoeiros nas olimpíadas.
O mundo se perguntava: será que o caminho para o bi-oliímpico ficou mais longe ? Será que está sentindo a pressão ? Problemas físicos.

A resposta veio nas finais. Com três apresentações impecáveis - arco, bola e maças - ela conseguiu uma boa diferença para Daria Dmitrieva e uma maior ainda para terceira, Liubov Charkashyna. Mesmo errando na fita e Daria ganhando, ela se manteve a frente por uma diferença de 2,400 à frente. Com essa pontuação, Evgenia Kanaeva conquistaria sua segunda medalha de ouro nos jogos, com a prata Daria Dmitrieva da Rússia e bronze para Liubov Charkashyna da Bielorrússia.



A "rainha" Zenya, como passou a ser chamada, escreve seu nome nas história dos jogos: a primeira ginasta a conseguir o bicampeonato olímpico na modalidade de forma consecutiva, a maior medalhista com duas de ouro e a ginasta mais velha a conseguir uma medalha com 22 anos, 4 meses e 7 dias superando Yulia Barsukova.




No conjunto, Russia ganha novamente o ouro, o quarto consecutivo em olimpíadas. A Bielorrússia fica com a prata e o bronze para Itália.



DEPOIS....

Férias merecidas. Mas depois das férias, ela não retornou aos treinos. E discretamente avisou a Agência antidopping que não participaria do próximo campeonato. Irina Viner comentou que havia possibilidade dela retornar aos treinos e foi só esfriar a cabeça um pouco. Logo estaria de volta para alegria de todos.

Mas em 4 de dezembro de 2012, na conferência da Federação Russa de Ginástica Rítmica, Evgenia Kanaeva anuncia o encerramento da sua carreira. Mas não largaria a ginástica ritmica por completo, poderia ficar na parte administrativa ou partir para outra atividade.  Naquela mesma conferência, ela foi eleita vice-presidente da federação.


Disse que atingiu todos os seus objetivos e estava feliz por ser lembrada pelo público. Estava cansada da politicagem na ginástica rítmica e das inimizades. Mas que a ginástica rítmica sempre será sua paixão. E que sua técnica, Vera Shtelbaums disse que Kanaeva tem qualidade para ser ótima técnica, coisa que ela fazia de pequena ensinando suas colegas de equipe e algo que ela pensaria no futuro. Na sua despedida Irina Viner falou: ela não nasceu ginasta, ela construiu uma ginasta.

Ainda em 2012, virou garota propaganda de algumas marcas e embaixadora de uma marca de cosméticos, onde ela participou de uma propaganda onde contava a história de uma menina que virou ginasta. Ela comentava que parte da propaganda era a história da sua vida. Só não falou qual.




Foi eleita a esportista do ano na Rússia e a Mulher do ano pela revista GQ. E também foi uma crítica ferrenha sobre o novo código de pontos. A começar pela entrevista nesta mesma revista:


"Agora a ginástica se torna mais fácil para que outros países possam alcançar a Rússia ou a Bielorrússia. Ginastas não se arriscam. Fazem menos lançamentos, não fazem truques insanos embora isso seja tão atraente. Agora é tudo dança. Mas isto é ginástica e não dança ! Eles dizem que flexibilidade provoca lesões. E quanto a ginástica artística etnão ? e hóquei, levantamento de peso ? São esses esportes livres de lesão ? É RIDÍCULO ! "

Ainda diria em outras entrevistas que as lesões das ginastas era por causa das condições de treino. Por capricho dos técnicos, as meninas eram forçadas além do limite, com repetição em cima de repetição, o que causava fadiga. Além da falta de condições, muitas não tinham acompanhamento médico e eram forçadas a perder peso, treinando forte sem comer. Isso que para ela que provocava lesões. Nunca se lesionou por causa da flexibilidade e passou a ter problemas no joelho por causa do excesso de pivot que força aquela  região. E acrescentou: assistir aos conjuntos lhe dava sono porque as novas regras limitaram a criatividade dos grupos.


Tanto falou que em 2015, a FIG resolveu aumentar um pouco as notas de dificuldade e colocou um "wow factor", um fator que pode aumentar a nota de uma sequencia que tiver alto grau de dificuldade e estimular as ginastas mais criativas.


E agora é só curtir a vida. Evgenia entrou na universidade de educação física e aprendeu a tocar piano, algo que ela adorava. Foi estudar outras línguas e até computação. Em 2013 se casou com Igor Musatov, jogador de hóquei, com quem estavam juntos há dois anos. E em 2014 nasceu Vladimir, o primeiro filho do casal.Kanaeva foi escolhida como Embaixadora Honorária da Universíade em Kazan.


Em 2015, tornou-se técnica principal da equipe junior da seleção Russa de ginástica ritmica. E suas meninas já começam a brilhar nos campeonatos. Sua última aparição foi no aniversário de 80 anos da Federação Russa de Ginástica, e foi aclamada pelo público. Coroando a carreira de uma das ginastas mais vitoriosas e brilhantes da história da modalidade.



FATOS SÓ DELA


- Ganhou o carinhoso apelido de Queen Zhenya (Rainha Zhenya) após as suas conquistas em 2010.
- Conhecida por sua flexibilidade, ela não tem hipermobilidade. Era uma flexibilidade natural conquistada como muito treino e da sua observação das técnicas de Alina Kabaeva. O segredo era o alongamento que ela fazia todo dia quando acordava. Ainda o faz.



- Sua outra dica era manter suas pernas sempre com boa aparência. É a parte que fica mais amostra na competição e perna bonita sempre chama atenção da arbitragem. A outra dica de beleza é sorrir sempre. Era raro ver foto dela séria.
- Se uniu a Alina Kabaeva e Katerina Serebrianska como as únicas a terem um Grand Slam: Europeu, Grand Prix, Mundial e Olimpíadas.
- A primeira a ganhar 6 medalhas de ouro em um só Europeu. E ainda repetiu o feito.
- Obteve medalha de ouro em todos os aparelhos da ginástica rítmica: corda, arco, fita, bola e maças.
- Venceu o mundial por 3 anos seguidos. As outras foram Maria Petrova, Maria Gigova e Yana Kudryavsteva.
- Conquistou 17 medalhas de ouro em Mundiais.
- Única bicampeã olímpica e a única a conseguir 30 pontos (10 em cada quesito).
- A ginasta mais velha a vencer uma olimpíada (em 2012)



FATOS
- Deu ruim ! O Brasil não teve nenhuma ginasta participando, nem no conjunto.

- O destaque foi para Ulyana Trofimova do Uzbequistão. Ela machucou o tornozelo no último aparelho para classificatória mas conseguiu a classificação. Mesmo lesionada, ela foi para a disputa das finais e ainda conseguiu o 20º de 24 ginastas na disputa.



- Mr. Bean na abertura dos jogos. Sensacional.


18 de agosto de 2016

MENINAS DE OURO - EVGENIA KANAEVA parte 1

PEQUIM 2008

Chegamos a China. E eles prometeram fazer a maior olimpíada de todas. E foi mesmo e não economizaram. Destaque para o estádio Ninho de Pássaro (foto) e o centro aquático Cubo d'Água. Mas também teve protestos de políticos e organizações porque a China não respeita os direitos humanos e que haveria uma politização por parte do governo em cima dos jogos, que não aconteceu.



 Em 2005, a nota 10 foi abolida da ginástica. Agora as notas seriam a soma dois quesitos: dificuldade e execução. Cada uma valendo 10 e totalizando 20 no máximo.  Segundo a FIG, esse sistema daria maior equilibrio e permitiria os atletas a fazerem séries com maiores dificuldades visando notas mais altas. Mas também era para acabar com confusões e protestos que ocorreu em Atenas na ginástica artística.

O mítico 10 perfeito de  Nadia Comaneci e  o recorde de Marina Lobach com 10 em todos os aparelhos na ginástica rítmica ficariam para história. A não ser que a FIG mude o código novamente....




EVGENIA KANAEVA




A Russa Evgenia Kanaeva nasceu em 1990, em Omsk. Seu pai, Oleg Kanaev era ex-atleta e técnico de Luta Greco-Romana. Sua mãe, Svetlana Kanaeva foi ginasta rítmica. Sua avó e sua mãe achavam que ela estava acima do peso (para não falar gordinha) e gostariam que ela praticasse alguma atividade para mantê-la em forma e deixar com uma postura correta e elegante, sem compromisso com resultados. E o esporte escolhido, óbvio, foi a ginástica rítmica.



E aos 6 anos iniciou na modalidade, na mesma equipe onde iniciou Irina Tchatchina, medalha de prata em Atenas. No início, ela não impressionava, nada que se destacava das demais. Mas com sua vontade de aprender e o entusiasmo nos treinos, logo ela chamou atenção de sua técnica Yelena Arais. Yelena enxergando um grande potencial na menina, contou para sua mãe que era técnica na mesma equipe em que trabalhava. Sua mãe era Vera Shtelbaums, técnica de Irina Tchatchina (medalha de prata em Atenas e campeã mundial). Vera reconheceu o potencial de Zhenya (seu apelido) e lembrou que se quisesse conquistar algo, teria que treinar muito. A pequena Kanaeva seguiu seus conselhos a risca e sempre ficava algumas horas a mais treinando enquanto as outras iam embora.


Mesmo em casa ela não parava de treinar, com sua avó que sempre perguntava a ela o que tinha aprendido no treino. E Evgenia sempre mostrava muito feliz seu aprendizado aos comandos de sua avó. E sempre assistia as competições na TV e tratava suas ginastas favoritas como se fossem pop star. Isso explica um pouco porque ela tinha as características de Alina Kabaeva e Irina Tchatchina.

 
 Com aprendizado rápido, Zhenya começou a ensinar as outras meninas da equipe. Vendo isso, Vera Shtelbaums assumiu seu treinamento.




Após ganhar vários campeonatos regionais, Kanaeva foi convidada a participar do grupo de jovens ginastas em Moscou. E para lá foi aos 12 anos. Seu desempenho foi tão impressionante que chamou a atenção de Amina Zaripova, ex-atleta da equipe principal e que coordenava o programa de jovens talentos. 



Amina convidou-a para treinar na Escola de Reserva Olímpica. Essa escola é um centro de treinamento de esportes olímpico para novos atletas de qualquer modalidade. E com Vera supervisionando seus treinos, ela rapidamente evoluiu.


Aos 13, Zhenya estreava em campeonatos internacionais, como junior (equivalente ao infantil aqui). Sua primeira conquista com medalha de ouro foi a Aeon Cup, que era disputa por equipes. Com Alina Kabaeva e Irina Tchatchina estavam competindo também, Irina Viner assistiu a tudo e no final, acabou por convidá-la a treinar com elas no centro de treinamento da equipe nacional.



Com a aposentadoria de Kabaeva após as olimpíadas, Kanaeva viu uma ótima oportunidade de chegar a equipe principal. Apesar de todo seu esforço, ela ainda tinha que "concorrer" com Olga Kapranova e Vera Sessina. Em 2006, Irina Tchatchina se retirou das competições e Alina Kabaeva retornou a competir, fazendo com que ela tivesse que batalhar tudo de novo.


Em 2006, como atleta da equipe principal, ela estreou no Torneio Internacional. Ganhou ouro na geral e em todos os aparelhos. Depois foi a vez de uma das etapas da Copa do Mundo no Japão, competiu na fita e nas maças acabando em 5º


Na etapa da França na Copa do Mundo de 2007, conquistou o ouro na geral, no arco, na fita e na corda, derrotando Anna Bessonova. E na etapa seguinte, ela seria bronze na geral e na corda, prata nas maças. Eis que chega o campeonato europeu. Olga Kapranova, Vera Sessina e Alina Kabaeva foram as escolhidas para participar e Evgenia Kanaeva ficaria como reserva. 





Na véspera da estreia delas no campeonato, Kabaeva lesiona o joelho, algo raríssimo em sua carreira. Finalmente chegou a vez de Zhenya para estrear pela equipe principal. Consegue o ouro na disputa por equipe e ainda conseguiu mais um ouro na fita. Como Kabaeva se recuperou a tempo para disputar o individual, Kanaeva ficou de fora.


Ao final do Europeu, Alina Kabaeva se aposenta e a vaga de ginasta nº1 da equipe estava aberta. Meses depois, Zhenya ajuda a equipe a novamente ganhar o ouro no Mundial de 2007 na Grécia.

Em 2008, ganhou diversas medalhas nas etapas da Copa do Mundo. E no Europeu daquele ano ganharia ouro na geral superando Anna Bessonova e Olga Kapranova. Mas o prêmio maior seria a convocação dela para disputar os jogos olímpicos de Pequim.



NAS OLIMPÍADAS...

Sem Alina Kabaeva e Irina Tchatchina, aposentadas, Irina Viner convocou Olga Kapranova com sua precisão incrível e Evgenia Kanaeva, que tinha a flexibilidade e agilidade de Kabaeva com a precisão e expressão corporal de Irina Tchatchina.


As favoritas eram  Olga Kapranova e a veterana Anna Bessonova com seus saltos e expressões marcantes, lembrando a dança. Kanaeva era favorita e mesmo chegando a Pequim como campeã europeia, não tinha tanto destaque porque não tinha tanta experiência internacional. Zhenya e Viner apostaram em séries com alta dificuldade para conseguir a medalha.


Nas classificatórias, Kanaeva ganhou quase tudo, mas foi mal no arco (já vimos esta história antes...) e permitindo a vitória de Kapranova com Bessonova bem próxima e uma surpreendente Inna Zhukova da Bielorrússia acompanhando de perto.





 Kanaeva marcou seu nome na história dos jogos, como a mais jovem ginasta a competir na fase final. Em entrevista, ela estava calma para a final e fez alguns erros.



Na final, Zhenya vinha liderando com alguma folga e faltando dois aparelhos (duas rotações). Olga Kapranova estava tentando tirar a diferença já que não foi tão bem na fita (literalmente) e poderia descontar a diferença nas maças. Porém ao iniciar sua série, ela se desequilibra e quase cai no chão, logo no exercício que ela era a melhor: o mundial. Para quem não sabe, o mundial é como uma ponte com uma perna levantada mas sem apoiar as mãos no chão. E sua nota despenca e acaba em 8º.


Com sua calma aliada a séries com alta dificuldade feita com precisão cirúrgica, Evgenia liderou de modo fácil, não dando chance alguma para as adversárias. E assim, Evgenia Kanaeva conquista sua primeira medalha de ouro nos jogos olímpicos, com 3,575 pontos de vantagem para a segunda colocada, a medalha de prata e surpreendente Inna Zhukova da Bielorrússia. Para ginástica, essa diferença foi muito muito grande. O bronze ficou com ucraniana Anna Bessonova. E Olga Kapranova com o erro nas maças,  acabou em quarto.





Na disputa por grupos, a Rússia conquistou o 3º ouro nessa modalidade. A China foi prata e a Bielorrússia foi bronze


DEPOIS...

Um pouco antes dos jogos de Pequim, a FIG (Federação Internacional de Ginástica) modificou totalmente o código de pontos. Aqueles movimentos incríveis junto com a flexibilidade absurda que rendia altas notas para Kanaeva, agora teriam pontuação baixa.



A FIG alegava que a ginástica rítmica estava se aproximando demais da ginástica artística devido a sequencia de exercícios cada vez mais elaborados e que essa mudança era para trazer coisas diferentes da ginástica artística. Decidiram que a gr deveria ser algo mais artístico, voltando as raízes quando era algo mais "dançado". Também queria mais segurança as suas ginastas,  por causas das inúmeras atletas se lesionando, até de forma grave, na tentativa de fazer exercícios e flexibilidade com extrema complexidade além que eu corpo aguentava.

As novidades do novo código eram a obrigatoriedade de passos de dança (pelo menos 3 segundos) e que os equilíbrios e pivots teriam maior pontuação de dificuldade. Pivot é um giro de 360º com um só pé no chão.



Mas que todos da comunidade da ginástica achavam mesmo que essas medidas eram para equilibrar a competição, já que Kanaeva ganhará com uma diferença absurda. Na teoria porque na prática as coisas seriam diferentes.

Praticamente, todas as ginastas teriam que começar do zero suas séries. Isso iria dificultar a vida de Zhenya. Mas trajetória dela não acaba aqui, continuará em Londres 2012. Aguarde o próximo e último capítulo das Meninas de Ouro.


FATOS
- O conjunto do Brasil participou (a terceira consecutiva) com Luana Faro, Daniela Leite, Tayanne Mantovaneli, Luisa Matsuo, Marcela Menezes Nicole Muller. Ficou em último na classificatória e não foi para a final :(


- Usain Bolt começou a sua supremacia nesta olimpíada, ganhando no 100m, 200m e no revezamento 4x100m.
- Parte desta biografia foi feita com base em uma entrevista de Evgenia. A entrevistadora era Alina Kabaeva.
- As meninas da equipe chamavam Evgenia de "irmã da Irina Tchatchina" devido a sua semelhança física e porque ambas nasceram na mesma cidade.

14 de agosto de 2016

MENINAS DE OURO - Alina Kabaeva

ATENAS 2004

Porque não voltar aonde tudo iniciou ? Assim os jogos olímpicos voltaram a Grécia, palco dos primeiros jogos olímpicos.O COI chegou a pensar que não aconteceria devido a vários atrasos. Mas tudo ficou pronto na hora certa.

Sem mudanças no regulamento na ginástica rítmica, a maior mudança seria nos nomes: ginástica olímpica tornaria ginástica artística e ginástica rítmica desportiva se tornaria apenas ginástica rítmica. Em Atenas, viríamos a consagração e a maior revolução da modalidade como um todo e a ginástica rítmica ganha destaque na mídia internacional. Para o bem e para o mal.





ALINA KABAEVA



1983 nascia Alina Kabaeva, Tashkent - Uzbequistão (na época, membro da URSS). Seu pai era jogador profissional de futebol e a mãe jogadora de basquete, então Alina já estava habituada a atmosfera do esporte. Sua mãe queria que ela fosse patinadora artística mas aceitou que fosse para a ginástica ritmica. Sua carreira começou aos 3 anos (quase 4).

  


Mas por causa da profissão do pai, sua família se mudava de país com certa frequência. Por muito pouco Alina Kabaeva deixou a ginástica rítmica: não conseguia equipe para treinar. A recusa foi porque ela era muito flexível e "pesada" (não fazia movimentos com leveza), mesmo tendo a agilidade ao seu favor. Aconselharam até a mãe procurar uma escola de circo para aproveitar toda aquela flexibilidade para a contorção. Com todas as dificuldades, chegou a disputar competições infantis regionais, com alguns bons resultados.


      


Aos 12, se mudam para Moscou. Sua mãe achou que as equipes estavam limitando o talento de Alina e decidiu por levá-la para fazer um teste com Irina Viner, técnica principal da seleção Russa de GR. O que Irina Viner achou:

"Eu não pude acreditar em meus olhos quando a vi pela primeira vez. Aquela garota tem a rara combinação de duas qualidades cruciais na ginástica rítmica: flexibilidade e agilidade"

 


Começou a parceria de sucesso. Sua estreia internacional foi em 1996 e 1998 suas primeiras medalhas: ouro na geral no Grand Prix; ouro na geral e em quase todos aparelhos (prata na corda) nos jogos da Boa Vontade; Ouro na geral e bronze por equipe no Europeu.




Até antes das olimpíadas conquistou: 7 vezes títulos nacionais (1998 ,1999, 2000, 2002, 2004 ,2006 e 2007); Ganhou o ouro na geral por 5 anos seguidos no Europeu, de 98 a 2002 e mais um título em 2004, e bronze por equipe em 1998; Ouro na geral da Copa do Mundo de 2000; Ouro na geral no Mundial de 1999 e no Mundial de 2003 e mais uma prata no arco e bronze nas maças nesse mesmo mundial.

     

Em 2000, as olimpíadas de Sydney, Alina Kabaeva era favorita mas um erro feio durante a série no arco fez perder o ouro para Yulia Barsukova (vide o capítulo anterior). A partir daqui, começa a época mais insana da ginástica rítmica, com manejos inimagináveis de aparelhos e com movimentos quase impossíveis com o corpo.



Mas em 2001, durante os Jogos da Boa Vontade (Goodwill Games), ela e Irina Tchatchina foram flagradas no dopping onde foi detectado furosomida, um diurético que é uma substância proibida no esporte. Irina Viner alegou que era um suplemento alimentar usado para pré-menstrução e que a fisioterapeuta comprou  em uma farmácia local. E segundo Irina, o suplemento era falsificado.

Ambas tiveram seus resultados cancelados do Goodwill Games e do Mundial de 2001 e acabaria com a possibilidade de classificação para o Mundial de 2002. Voltaria ganhar o Mundial em 2003, ouro na geral.


 



NAS OLIMPÍADAS...


 Alina Kabaeva era novamente a favorita a conquistar o ouro, como foi em Sidney. Com coreografias de dificuldade altissima, exercícios com muita flexibilidade e agilidade fora do comum. Mas não teria vida fácil, já que sua colega também era uma das melhores ginastas do mundo, Irina Tchatchina, com precisão cirurgica nos movimentos e saltos perfeitos.




Na qualificatória, tudo ficou equilibrado. Conseguiu a vitória na bola. Tchatchina conseguiu a vitória na fita e no arco. E Anna Bessonova (faria sua estreia nos jogos) faturou nas maças.


Nas finais, o primeiro aparelho que Kabaeva teria que enfrentar seria o arco. Logo aquele que lhe tirou a medalha de ouro. Teria uma segunda chance para mostrar que estava tudo superado. Só que não. Ela cometeu um erro novamente na série mas dessa vez o erro custou pouco. Segundo lugar no arco atrás de Irina Tchatchina.

 
Para compensar o erro, ela executou as melhores performances nos aparelhos que restavam (fita, maça e bola) e confirmou o favoritismo com uma boa diferença de pontos. 108,400 contra 107,325 da Irina. Finalmente o merecido ouro para Alina Kabaeva.

 A prata ficou com Irina Tchatchina da Rússia e bronze para Anna Bessonova. Nos grupos, a Rússia também ganhou ouro, com prata para Itália e bronze para Bulgária.




DEPOIS...
Ao final de 2004, Alina anunciou sua aposentadoria. Queria aproveitar a vida e estudar.
Nesse tempo parado, ela foi estudar, fez alguns ensaios fotográficos para revistas, participou de um clip além de trabalhar como técnica em uma escola de ginástica rítmica. Em 2005, foi para a política. Se elegeu para a Câmara Pública.

 


   
Não aguentou de saudades e retornou as competições em 2006. Muitos achavam que seu retorno era para dar um fim melancólico na sua gloriosa carreira. Mas ela provou o contrário. Na sua primeira competição de retorno, no Grand Prix Moscou em 2006, ela ganhou o ouro na geral, provando que talento não se perde.


Na véspera do europeu de 2007, Alina Kabaeva se lesionou (algo raro na sua carreira) e ficou de fora na a disputa por equipes. Irina Viner convocou a reserva para substituí-la, uma jovem com começo de carreira parecido com o de Kabaeva: Evgenia Kanaeva.



Kabaeva conseguiu ainda disputar o individual e conquistar o 4º. Mas não foi a final porque a competição só permitia 2 atletas por país (Vera Sessina e Olga Kapranova a sua frente) coisa que nunca aconteceu na sua carreira. Alina Kabaeva decidiu se retirar em definitivo das competições e encerrar umas das carreiras vitoriosas de uma das ginastas mais querida do mundo.

Olga Kapranova - Alina Kabaeva - Irina Viner - Evgenia Kanaeva - Vera Sessina

Em 2007 e 2014 ela conseguiu se eleger membro (o equivalente a deputada) do Parlamento Russo. Ainda viria ser a capa da Vogue em 2011.

 

Participou de várias apresentações de gala da ginástica rítmica. Em 2014, nos jogos de inverno de Sochi, participou do acendimento da tocha.  E em 2015, participou do aniversário de 80 anos da Federação Russa de Ginástica.



A REVOLUÇÃO
Não importa agora se uma atleta é mega flexível ou se é "dura" mas tem manejo perfeito. As equipes enxergavam a diferença como vantagem, aplicando o ponto forte da atleta na série com apurando sua técnica cada vez mais. Até hoje, você pode ver atletas com a mesma treinadora mas completamente diferentes em execução. Isso e mais a popularização da internet ajudou a aumentar o número de praticantes da modalidade. E a popularidade da Alina Kabaeva também.

Com ginastas cada vez mais ágeis e flexíveis, as equipes começaram a elaborar séries com nota de dificuldade maiores, principalmente a dificuldade corporal e não apostando muito na parte artística. Mesmo que a execução falhasse, a dificuldade segurava as notas altas. E foi isso que ajudou Kabaeva a não perder o ouro, já que teve um erro no manejo do arco mas as dificuldades corporais seguraram em uma boa posição.


Alina fazendo coisas "quase" impossíveis, estimulou outras e até as novas ginastas a seguir seus "passos". Foram os anos mais insanos da ginástica rítmica. Logo chamou atenção da mídia internacional e passou a divulgar mais a GR e consequentemente, as ginastas tiveram mais oportunidades de carreira. Apresentadoras de programas, comentaristas, consultoras, jornalistas e artistas, até de circo.

Irina Kazakova - Nadya Vasina - Olga Karmansky - Jordan Mcknight

O surgimento do "new circo" (via Cirque du Soleil) enxergou nas ginastas artistas com muito potencial. E muitas ginastas enxergaram no circo um prolongamento de sua carreira, sem deixar de fazer o que tanto amavam e fazer sucesso até mais quando eram atletas. De Hula-Hoop a performances aéreas, coreógrafas e contorcionistas foram áreas que muitas ginastas migraram após a aposentadoria. Na contorção, por exemplo, surgiram várias com fama internacional como Nadya Vasina (competiu junto com Bessonova), Irina Kazakova, Jordan Mcknight e Olga Karmansky (campeã panamericana).
 


FATOS...SÓ DELA.


- Alina Kabaeva ganhou uma copa com seu nome, a "Alina's Cup", no Grand Prix de Moscou para as juniors (chamaríamos de infantil aqui).
- Alina Kabaeva  igualou a marca de Alexandra Tymoshenko com a maior número de medalhas em olimpíadas: 2, uma de ouro e uma de bronze
- Ela ainda seria a mais jovem a ginasta a ganhar o Europeu com 15 anos de idade e a maior vencedora com 6 títulos.
- Também é a mais jovem a conquistar um Mundial aos 16 anos. Recorde quebrado por Yana Kudryavtseva com 15 anos.
- Foi a segunda a conquistar o grand slam, a primeira foi Kateryna Serebrianska
- Foi também a primeira a ginasta rítmica a ter um movimento batizado com seu nome. É um backbend apoiando o peito no chão e pernas cruzadas, utilizando uma das mãos para manejo do aparelho.  Pose inspirada no Adagio, só que lá era feito com as pernas juntas. 0,10 de nota e sem as mãos 0,20

 

- Apesar de toda a mega flexibilidade e fazer poses de contorcionistas, ela nunca fez ou participou de algum número de contorção.
- Até hoje ela faz muito sucesso no Japão. Apareceu em programas e fez até um vídeo de treinamento por lá.



- Ainda participou de um filme japonês em 2001, Red Shadow. Com sua coreografia da bola e usando maças como arma.



FATOS

- Brasil se classificou novamente para a disputa por grupos. Com Larissa Barata, Fernanda Cavalieri, Ana Maria Maciel, Tayanne Mantovaneli, Jennifer Oliveira e Dayane Camilo. Repetiram o mesmo desempenho de Sidney 2000. 7º na classificatória e 8º nas finais.