14 de agosto de 2016

MENINAS DE OURO - Alina Kabaeva

ATENAS 2004

Porque não voltar aonde tudo iniciou ? Assim os jogos olímpicos voltaram a Grécia, palco dos primeiros jogos olímpicos.O COI chegou a pensar que não aconteceria devido a vários atrasos. Mas tudo ficou pronto na hora certa.

Sem mudanças no regulamento na ginástica rítmica, a maior mudança seria nos nomes: ginástica olímpica tornaria ginástica artística e ginástica rítmica desportiva se tornaria apenas ginástica rítmica. Em Atenas, viríamos a consagração e a maior revolução da modalidade como um todo e a ginástica rítmica ganha destaque na mídia internacional. Para o bem e para o mal.





ALINA KABAEVA



1983 nascia Alina Kabaeva, Tashkent - Uzbequistão (na época, membro da URSS). Seu pai era jogador profissional de futebol e a mãe jogadora de basquete, então Alina já estava habituada a atmosfera do esporte. Sua mãe queria que ela fosse patinadora artística mas aceitou que fosse para a ginástica ritmica. Sua carreira começou aos 3 anos (quase 4).

  


Mas por causa da profissão do pai, sua família se mudava de país com certa frequência. Por muito pouco Alina Kabaeva deixou a ginástica rítmica: não conseguia equipe para treinar. A recusa foi porque ela era muito flexível e "pesada" (não fazia movimentos com leveza), mesmo tendo a agilidade ao seu favor. Aconselharam até a mãe procurar uma escola de circo para aproveitar toda aquela flexibilidade para a contorção. Com todas as dificuldades, chegou a disputar competições infantis regionais, com alguns bons resultados.


      


Aos 12, se mudam para Moscou. Sua mãe achou que as equipes estavam limitando o talento de Alina e decidiu por levá-la para fazer um teste com Irina Viner, técnica principal da seleção Russa de GR. O que Irina Viner achou:

"Eu não pude acreditar em meus olhos quando a vi pela primeira vez. Aquela garota tem a rara combinação de duas qualidades cruciais na ginástica rítmica: flexibilidade e agilidade"

 


Começou a parceria de sucesso. Sua estreia internacional foi em 1996 e 1998 suas primeiras medalhas: ouro na geral no Grand Prix; ouro na geral e em quase todos aparelhos (prata na corda) nos jogos da Boa Vontade; Ouro na geral e bronze por equipe no Europeu.




Até antes das olimpíadas conquistou: 7 vezes títulos nacionais (1998 ,1999, 2000, 2002, 2004 ,2006 e 2007); Ganhou o ouro na geral por 5 anos seguidos no Europeu, de 98 a 2002 e mais um título em 2004, e bronze por equipe em 1998; Ouro na geral da Copa do Mundo de 2000; Ouro na geral no Mundial de 1999 e no Mundial de 2003 e mais uma prata no arco e bronze nas maças nesse mesmo mundial.

     

Em 2000, as olimpíadas de Sydney, Alina Kabaeva era favorita mas um erro feio durante a série no arco fez perder o ouro para Yulia Barsukova (vide o capítulo anterior). A partir daqui, começa a época mais insana da ginástica rítmica, com manejos inimagináveis de aparelhos e com movimentos quase impossíveis com o corpo.



Mas em 2001, durante os Jogos da Boa Vontade (Goodwill Games), ela e Irina Tchatchina foram flagradas no dopping onde foi detectado furosomida, um diurético que é uma substância proibida no esporte. Irina Viner alegou que era um suplemento alimentar usado para pré-menstrução e que a fisioterapeuta comprou  em uma farmácia local. E segundo Irina, o suplemento era falsificado.

Ambas tiveram seus resultados cancelados do Goodwill Games e do Mundial de 2001 e acabaria com a possibilidade de classificação para o Mundial de 2002. Voltaria ganhar o Mundial em 2003, ouro na geral.


 



NAS OLIMPÍADAS...


 Alina Kabaeva era novamente a favorita a conquistar o ouro, como foi em Sidney. Com coreografias de dificuldade altissima, exercícios com muita flexibilidade e agilidade fora do comum. Mas não teria vida fácil, já que sua colega também era uma das melhores ginastas do mundo, Irina Tchatchina, com precisão cirurgica nos movimentos e saltos perfeitos.




Na qualificatória, tudo ficou equilibrado. Conseguiu a vitória na bola. Tchatchina conseguiu a vitória na fita e no arco. E Anna Bessonova (faria sua estreia nos jogos) faturou nas maças.


Nas finais, o primeiro aparelho que Kabaeva teria que enfrentar seria o arco. Logo aquele que lhe tirou a medalha de ouro. Teria uma segunda chance para mostrar que estava tudo superado. Só que não. Ela cometeu um erro novamente na série mas dessa vez o erro custou pouco. Segundo lugar no arco atrás de Irina Tchatchina.

 
Para compensar o erro, ela executou as melhores performances nos aparelhos que restavam (fita, maça e bola) e confirmou o favoritismo com uma boa diferença de pontos. 108,400 contra 107,325 da Irina. Finalmente o merecido ouro para Alina Kabaeva.

 A prata ficou com Irina Tchatchina da Rússia e bronze para Anna Bessonova. Nos grupos, a Rússia também ganhou ouro, com prata para Itália e bronze para Bulgária.




DEPOIS...
Ao final de 2004, Alina anunciou sua aposentadoria. Queria aproveitar a vida e estudar.
Nesse tempo parado, ela foi estudar, fez alguns ensaios fotográficos para revistas, participou de um clip além de trabalhar como técnica em uma escola de ginástica rítmica. Em 2005, foi para a política. Se elegeu para a Câmara Pública.

 


   
Não aguentou de saudades e retornou as competições em 2006. Muitos achavam que seu retorno era para dar um fim melancólico na sua gloriosa carreira. Mas ela provou o contrário. Na sua primeira competição de retorno, no Grand Prix Moscou em 2006, ela ganhou o ouro na geral, provando que talento não se perde.


Na véspera do europeu de 2007, Alina Kabaeva se lesionou (algo raro na sua carreira) e ficou de fora na a disputa por equipes. Irina Viner convocou a reserva para substituí-la, uma jovem com começo de carreira parecido com o de Kabaeva: Evgenia Kanaeva.



Kabaeva conseguiu ainda disputar o individual e conquistar o 4º. Mas não foi a final porque a competição só permitia 2 atletas por país (Vera Sessina e Olga Kapranova a sua frente) coisa que nunca aconteceu na sua carreira. Alina Kabaeva decidiu se retirar em definitivo das competições e encerrar umas das carreiras vitoriosas de uma das ginastas mais querida do mundo.

Olga Kapranova - Alina Kabaeva - Irina Viner - Evgenia Kanaeva - Vera Sessina

Em 2007 e 2014 ela conseguiu se eleger membro (o equivalente a deputada) do Parlamento Russo. Ainda viria ser a capa da Vogue em 2011.

 

Participou de várias apresentações de gala da ginástica rítmica. Em 2014, nos jogos de inverno de Sochi, participou do acendimento da tocha.  E em 2015, participou do aniversário de 80 anos da Federação Russa de Ginástica.



A REVOLUÇÃO
Não importa agora se uma atleta é mega flexível ou se é "dura" mas tem manejo perfeito. As equipes enxergavam a diferença como vantagem, aplicando o ponto forte da atleta na série com apurando sua técnica cada vez mais. Até hoje, você pode ver atletas com a mesma treinadora mas completamente diferentes em execução. Isso e mais a popularização da internet ajudou a aumentar o número de praticantes da modalidade. E a popularidade da Alina Kabaeva também.

Com ginastas cada vez mais ágeis e flexíveis, as equipes começaram a elaborar séries com nota de dificuldade maiores, principalmente a dificuldade corporal e não apostando muito na parte artística. Mesmo que a execução falhasse, a dificuldade segurava as notas altas. E foi isso que ajudou Kabaeva a não perder o ouro, já que teve um erro no manejo do arco mas as dificuldades corporais seguraram em uma boa posição.


Alina fazendo coisas "quase" impossíveis, estimulou outras e até as novas ginastas a seguir seus "passos". Foram os anos mais insanos da ginástica rítmica. Logo chamou atenção da mídia internacional e passou a divulgar mais a GR e consequentemente, as ginastas tiveram mais oportunidades de carreira. Apresentadoras de programas, comentaristas, consultoras, jornalistas e artistas, até de circo.

Irina Kazakova - Nadya Vasina - Olga Karmansky - Jordan Mcknight

O surgimento do "new circo" (via Cirque du Soleil) enxergou nas ginastas artistas com muito potencial. E muitas ginastas enxergaram no circo um prolongamento de sua carreira, sem deixar de fazer o que tanto amavam e fazer sucesso até mais quando eram atletas. De Hula-Hoop a performances aéreas, coreógrafas e contorcionistas foram áreas que muitas ginastas migraram após a aposentadoria. Na contorção, por exemplo, surgiram várias com fama internacional como Nadya Vasina (competiu junto com Bessonova), Irina Kazakova, Jordan Mcknight e Olga Karmansky (campeã panamericana).
 


FATOS...SÓ DELA.


- Alina Kabaeva ganhou uma copa com seu nome, a "Alina's Cup", no Grand Prix de Moscou para as juniors (chamaríamos de infantil aqui).
- Alina Kabaeva  igualou a marca de Alexandra Tymoshenko com a maior número de medalhas em olimpíadas: 2, uma de ouro e uma de bronze
- Ela ainda seria a mais jovem a ginasta a ganhar o Europeu com 15 anos de idade e a maior vencedora com 6 títulos.
- Também é a mais jovem a conquistar um Mundial aos 16 anos. Recorde quebrado por Yana Kudryavtseva com 15 anos.
- Foi a segunda a conquistar o grand slam, a primeira foi Kateryna Serebrianska
- Foi também a primeira a ginasta rítmica a ter um movimento batizado com seu nome. É um backbend apoiando o peito no chão e pernas cruzadas, utilizando uma das mãos para manejo do aparelho.  Pose inspirada no Adagio, só que lá era feito com as pernas juntas. 0,10 de nota e sem as mãos 0,20

 

- Apesar de toda a mega flexibilidade e fazer poses de contorcionistas, ela nunca fez ou participou de algum número de contorção.
- Até hoje ela faz muito sucesso no Japão. Apareceu em programas e fez até um vídeo de treinamento por lá.



- Ainda participou de um filme japonês em 2001, Red Shadow. Com sua coreografia da bola e usando maças como arma.



FATOS

- Brasil se classificou novamente para a disputa por grupos. Com Larissa Barata, Fernanda Cavalieri, Ana Maria Maciel, Tayanne Mantovaneli, Jennifer Oliveira e Dayane Camilo. Repetiram o mesmo desempenho de Sidney 2000. 7º na classificatória e 8º nas finais.




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