19 de agosto de 2016

MENINAS DE OURO - EVGENIA KANAEVA - parte 2

LONDRES 2012

Londres veio com a promessa de ser a mais tecnológica e conectada das sedes dos jogos olímpicos. Agora temos um mundo conectado e a internet trazia todos os resultados em tempo real. E permitia assistir as modalidades que a Tv não transmitiria. Trilha musical impecável e com participações de o 007 James Bond e Mr. Bean. O melhor ponto positivo desses jogos foi que todas as nações tinham mulheres participando da delegação.


  Na ginástica rítmica a grande mudança foi no código de pontos (como foi contado no capítulo anterior), privilegiando o artístico do que a dificuldade. A nota também teria uma mudança: a nota da parte artística seria somada a execução e dificuldade, chegando a um total de 30 pontos. Jamais alguém chegaria a essa marca. Sobre o 30 perfeito, veja bem...


CONTINUANDO COM EVGENIA KANAEVA...


Ela nunca concordou muito com essas novas regras. Acreditava que ginástica não era dança como a Federação Internacional queria. Mas continuou na ginástica rítmica, sua grande paixão. Essa "política" serviria de grande motivação e mais tarde ela comentaria sobre isso. A Federação Russa compartilhava da mesma ideia.

Com o novo código de pontos em vigor em 2009, Kanaeva teve que mudar drasticamente o estilo de suas séries e treinar muito para ficarem perfeitas. Mas teve um preço: lesões e cansaço no início de temporada e a recuperação era mais lenta.


Problemas no joelho e na coluna deixaram ela de fora em alguns torneios de menor importância e sempre era dúvida se participaria dos campeonatos. Nunca uma atleta reserva era tão mencionada por causa de Evgenia Kanaeva.


Se a intenção da regra era equilibrar a disputa, ela foi por água abaixo. Zhenya ganhou ouro na geral em todos os aparelhos no campeonatos Europeu. Repetiria o feito no Grand Prix. Ganhou tudo de novo na Universíade (olimpíada das universidades ou estudantes), ajudando a Russia a terminar em primeiro na competição, com direito a cumprimentos do Presidente da Rússia. E novamente, no Mundial, ouro na geral, por aparelhos e por equipe. Quebrou o recorde de Oxana Kostina (em 1992) de maior número de medalhas de ouro em único campeonato, com 6 medalhas no total. E outro telegrama do presidente da Rússia parabenizando.

Em 2010, nada mudou. Ouro na geral no Europeu e ouro na geral e por aparelhos no Grand Prix. No Mundial em Moscou: ouro na geral e por equipe, ouro na bola, no arco e prata na corda. Daria Dmitrieva ficou com o ouro na corda.


Chega em 2011 e parecia ser mais uma temporada fácil com domínio total. Mas foi complicado para ela com problemas de lesões e doença. No Grand Prix em Moscou mais um ouro na geral e por aparelhos. Após o lançamento das maças, uma delas acerta em cheio o seu pulso. O primeiro susto. Maças são verdadeiras armas perigosas, Alina Kabaeva que o diga.


Na etapa de Pesaro ela fica com a prata (!?!?) e o ouro com Daria Dmitrieva na geral. Disse que estava doente, com mal- estar. No Europeu, foi ouro no arco e na bola, e prata na fita, perdendo para Liubov Charkashyna da Bielorrússia.


Na final do Grand Prix, em Brno, ouro na geral e em todos aparelhos. E Kanaeva conseguiu o que todos achavam que seria impossível: nota 30 perfeito na fita. 10 no artístico, 10 na dificuldade e 10 na execução. Ninguém mais conseguiria fazer isso. E fechou com ouro em tudo no Mundial e na Aeon Cup. Mas problemas no joelho e nas costas, além de ficar doente fez com que não participasse de vários campeonatos. Isso fez cair no ranking e permitiu o crescimento de suas rivais Daria Dmitrieva e Daria Kondakova.


Para 2012, Kanaeva viria com todas suas séries novas. Enquanto ela fazia os ajustes, Daria Dmitrieva ganharia o Grand Prix Moscou, Kanaeva ficaria com a prata mas ganharia na disputa por aparelhos. Venceu a etapa seguinte. Ficou doente em uma das etapas da Copa do Mundo e retornou na etapa seguinte da copa. Ganhou tudo novamente e só não ganhou na fita como também não se qualificou para esta disputa, por causa do limite de atletas por país. Nunca havia acontecido isso em sua carreira. Depois disso, retomou seu "mantra" de estar sempre focada e não se preocupar em errar.



Antes dos jogos, teve o Europeu onde ela ganhou pela terceira vez seguida, com ouro em tudo, repetindo seu recorde do ano anterior de 6 medalhas.


NAS OLIMPÍADAS

A grande favorita era Kanaeva, ganhou ouro em todos campeonatos que disputou e vinha com uma infinidade de medalhas para Pequim. Todos esperavam que ela ganharia tudo novamente nas olimpíadas afinal. Como ela disse em entrevista há quatro anos atrás, as olimpíadas é um campeonato diferente de tudo. Mas a sucessão de lesões e doenças deixaram um ar de dúvida. E também não era favorita sozinha: Daria Dmitrieva que evoluiu muito nos últimos anos e Liubov Charkashyna também eram favoritas.


E ficou provado. Nas qualificatórias, o susto: Kanaeva comete dois erros sérios no arco. O primeiro, após o lançamento do arco, onde ele caíria de lado no carpete passando o pé para dentro e faria o giro do arco com a perna. Só que ela pisou no arco e arrastou ele no carpete. O segundo, após outro lançamento só que o arco vem todo torto na sua mão e ele acaba escapando, mas ela segura a tempo de evitar a saída do carpete. Nunca havia errado tanto em uma série. E pela primeira vez em 3 anos, ela ficaria de fora da liderança em um aparelho, acabando em segundo. A primeira foi sua companheira de equipe, Daria Dmitrieva.


Se você é favorita nas olimpíadas, fica a dica: cuidado com o arco, eles ficam traiçoeiros nas olimpíadas.
O mundo se perguntava: será que o caminho para o bi-oliímpico ficou mais longe ? Será que está sentindo a pressão ? Problemas físicos.

A resposta veio nas finais. Com três apresentações impecáveis - arco, bola e maças - ela conseguiu uma boa diferença para Daria Dmitrieva e uma maior ainda para terceira, Liubov Charkashyna. Mesmo errando na fita e Daria ganhando, ela se manteve a frente por uma diferença de 2,400 à frente. Com essa pontuação, Evgenia Kanaeva conquistaria sua segunda medalha de ouro nos jogos, com a prata Daria Dmitrieva da Rússia e bronze para Liubov Charkashyna da Bielorrússia.



A "rainha" Zenya, como passou a ser chamada, escreve seu nome nas história dos jogos: a primeira ginasta a conseguir o bicampeonato olímpico na modalidade de forma consecutiva, a maior medalhista com duas de ouro e a ginasta mais velha a conseguir uma medalha com 22 anos, 4 meses e 7 dias superando Yulia Barsukova.




No conjunto, Russia ganha novamente o ouro, o quarto consecutivo em olimpíadas. A Bielorrússia fica com a prata e o bronze para Itália.



DEPOIS....

Férias merecidas. Mas depois das férias, ela não retornou aos treinos. E discretamente avisou a Agência antidopping que não participaria do próximo campeonato. Irina Viner comentou que havia possibilidade dela retornar aos treinos e foi só esfriar a cabeça um pouco. Logo estaria de volta para alegria de todos.

Mas em 4 de dezembro de 2012, na conferência da Federação Russa de Ginástica Rítmica, Evgenia Kanaeva anuncia o encerramento da sua carreira. Mas não largaria a ginástica ritmica por completo, poderia ficar na parte administrativa ou partir para outra atividade.  Naquela mesma conferência, ela foi eleita vice-presidente da federação.


Disse que atingiu todos os seus objetivos e estava feliz por ser lembrada pelo público. Estava cansada da politicagem na ginástica rítmica e das inimizades. Mas que a ginástica rítmica sempre será sua paixão. E que sua técnica, Vera Shtelbaums disse que Kanaeva tem qualidade para ser ótima técnica, coisa que ela fazia de pequena ensinando suas colegas de equipe e algo que ela pensaria no futuro. Na sua despedida Irina Viner falou: ela não nasceu ginasta, ela construiu uma ginasta.

Ainda em 2012, virou garota propaganda de algumas marcas e embaixadora de uma marca de cosméticos, onde ela participou de uma propaganda onde contava a história de uma menina que virou ginasta. Ela comentava que parte da propaganda era a história da sua vida. Só não falou qual.




Foi eleita a esportista do ano na Rússia e a Mulher do ano pela revista GQ. E também foi uma crítica ferrenha sobre o novo código de pontos. A começar pela entrevista nesta mesma revista:


"Agora a ginástica se torna mais fácil para que outros países possam alcançar a Rússia ou a Bielorrússia. Ginastas não se arriscam. Fazem menos lançamentos, não fazem truques insanos embora isso seja tão atraente. Agora é tudo dança. Mas isto é ginástica e não dança ! Eles dizem que flexibilidade provoca lesões. E quanto a ginástica artística etnão ? e hóquei, levantamento de peso ? São esses esportes livres de lesão ? É RIDÍCULO ! "

Ainda diria em outras entrevistas que as lesões das ginastas era por causa das condições de treino. Por capricho dos técnicos, as meninas eram forçadas além do limite, com repetição em cima de repetição, o que causava fadiga. Além da falta de condições, muitas não tinham acompanhamento médico e eram forçadas a perder peso, treinando forte sem comer. Isso que para ela que provocava lesões. Nunca se lesionou por causa da flexibilidade e passou a ter problemas no joelho por causa do excesso de pivot que força aquela  região. E acrescentou: assistir aos conjuntos lhe dava sono porque as novas regras limitaram a criatividade dos grupos.


Tanto falou que em 2015, a FIG resolveu aumentar um pouco as notas de dificuldade e colocou um "wow factor", um fator que pode aumentar a nota de uma sequencia que tiver alto grau de dificuldade e estimular as ginastas mais criativas.


E agora é só curtir a vida. Evgenia entrou na universidade de educação física e aprendeu a tocar piano, algo que ela adorava. Foi estudar outras línguas e até computação. Em 2013 se casou com Igor Musatov, jogador de hóquei, com quem estavam juntos há dois anos. E em 2014 nasceu Vladimir, o primeiro filho do casal.Kanaeva foi escolhida como Embaixadora Honorária da Universíade em Kazan.


Em 2015, tornou-se técnica principal da equipe junior da seleção Russa de ginástica ritmica. E suas meninas já começam a brilhar nos campeonatos. Sua última aparição foi no aniversário de 80 anos da Federação Russa de Ginástica, e foi aclamada pelo público. Coroando a carreira de uma das ginastas mais vitoriosas e brilhantes da história da modalidade.



FATOS SÓ DELA


- Ganhou o carinhoso apelido de Queen Zhenya (Rainha Zhenya) após as suas conquistas em 2010.
- Conhecida por sua flexibilidade, ela não tem hipermobilidade. Era uma flexibilidade natural conquistada como muito treino e da sua observação das técnicas de Alina Kabaeva. O segredo era o alongamento que ela fazia todo dia quando acordava. Ainda o faz.



- Sua outra dica era manter suas pernas sempre com boa aparência. É a parte que fica mais amostra na competição e perna bonita sempre chama atenção da arbitragem. A outra dica de beleza é sorrir sempre. Era raro ver foto dela séria.
- Se uniu a Alina Kabaeva e Katerina Serebrianska como as únicas a terem um Grand Slam: Europeu, Grand Prix, Mundial e Olimpíadas.
- A primeira a ganhar 6 medalhas de ouro em um só Europeu. E ainda repetiu o feito.
- Obteve medalha de ouro em todos os aparelhos da ginástica rítmica: corda, arco, fita, bola e maças.
- Venceu o mundial por 3 anos seguidos. As outras foram Maria Petrova, Maria Gigova e Yana Kudryavsteva.
- Conquistou 17 medalhas de ouro em Mundiais.
- Única bicampeã olímpica e a única a conseguir 30 pontos (10 em cada quesito).
- A ginasta mais velha a vencer uma olimpíada (em 2012)



FATOS
- Deu ruim ! O Brasil não teve nenhuma ginasta participando, nem no conjunto.

- O destaque foi para Ulyana Trofimova do Uzbequistão. Ela machucou o tornozelo no último aparelho para classificatória mas conseguiu a classificação. Mesmo lesionada, ela foi para a disputa das finais e ainda conseguiu o 20º de 24 ginastas na disputa.



- Mr. Bean na abertura dos jogos. Sensacional.


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