18 de agosto de 2016

MENINAS DE OURO - EVGENIA KANAEVA parte 1

PEQUIM 2008

Chegamos a China. E eles prometeram fazer a maior olimpíada de todas. E foi mesmo e não economizaram. Destaque para o estádio Ninho de Pássaro (foto) e o centro aquático Cubo d'Água. Mas também teve protestos de políticos e organizações porque a China não respeita os direitos humanos e que haveria uma politização por parte do governo em cima dos jogos, que não aconteceu.



 Em 2005, a nota 10 foi abolida da ginástica. Agora as notas seriam a soma dois quesitos: dificuldade e execução. Cada uma valendo 10 e totalizando 20 no máximo.  Segundo a FIG, esse sistema daria maior equilibrio e permitiria os atletas a fazerem séries com maiores dificuldades visando notas mais altas. Mas também era para acabar com confusões e protestos que ocorreu em Atenas na ginástica artística.

O mítico 10 perfeito de  Nadia Comaneci e  o recorde de Marina Lobach com 10 em todos os aparelhos na ginástica rítmica ficariam para história. A não ser que a FIG mude o código novamente....




EVGENIA KANAEVA




A Russa Evgenia Kanaeva nasceu em 1990, em Omsk. Seu pai, Oleg Kanaev era ex-atleta e técnico de Luta Greco-Romana. Sua mãe, Svetlana Kanaeva foi ginasta rítmica. Sua avó e sua mãe achavam que ela estava acima do peso (para não falar gordinha) e gostariam que ela praticasse alguma atividade para mantê-la em forma e deixar com uma postura correta e elegante, sem compromisso com resultados. E o esporte escolhido, óbvio, foi a ginástica rítmica.



E aos 6 anos iniciou na modalidade, na mesma equipe onde iniciou Irina Tchatchina, medalha de prata em Atenas. No início, ela não impressionava, nada que se destacava das demais. Mas com sua vontade de aprender e o entusiasmo nos treinos, logo ela chamou atenção de sua técnica Yelena Arais. Yelena enxergando um grande potencial na menina, contou para sua mãe que era técnica na mesma equipe em que trabalhava. Sua mãe era Vera Shtelbaums, técnica de Irina Tchatchina (medalha de prata em Atenas e campeã mundial). Vera reconheceu o potencial de Zhenya (seu apelido) e lembrou que se quisesse conquistar algo, teria que treinar muito. A pequena Kanaeva seguiu seus conselhos a risca e sempre ficava algumas horas a mais treinando enquanto as outras iam embora.


Mesmo em casa ela não parava de treinar, com sua avó que sempre perguntava a ela o que tinha aprendido no treino. E Evgenia sempre mostrava muito feliz seu aprendizado aos comandos de sua avó. E sempre assistia as competições na TV e tratava suas ginastas favoritas como se fossem pop star. Isso explica um pouco porque ela tinha as características de Alina Kabaeva e Irina Tchatchina.

 
 Com aprendizado rápido, Zhenya começou a ensinar as outras meninas da equipe. Vendo isso, Vera Shtelbaums assumiu seu treinamento.




Após ganhar vários campeonatos regionais, Kanaeva foi convidada a participar do grupo de jovens ginastas em Moscou. E para lá foi aos 12 anos. Seu desempenho foi tão impressionante que chamou a atenção de Amina Zaripova, ex-atleta da equipe principal e que coordenava o programa de jovens talentos. 



Amina convidou-a para treinar na Escola de Reserva Olímpica. Essa escola é um centro de treinamento de esportes olímpico para novos atletas de qualquer modalidade. E com Vera supervisionando seus treinos, ela rapidamente evoluiu.


Aos 13, Zhenya estreava em campeonatos internacionais, como junior (equivalente ao infantil aqui). Sua primeira conquista com medalha de ouro foi a Aeon Cup, que era disputa por equipes. Com Alina Kabaeva e Irina Tchatchina estavam competindo também, Irina Viner assistiu a tudo e no final, acabou por convidá-la a treinar com elas no centro de treinamento da equipe nacional.



Com a aposentadoria de Kabaeva após as olimpíadas, Kanaeva viu uma ótima oportunidade de chegar a equipe principal. Apesar de todo seu esforço, ela ainda tinha que "concorrer" com Olga Kapranova e Vera Sessina. Em 2006, Irina Tchatchina se retirou das competições e Alina Kabaeva retornou a competir, fazendo com que ela tivesse que batalhar tudo de novo.


Em 2006, como atleta da equipe principal, ela estreou no Torneio Internacional. Ganhou ouro na geral e em todos os aparelhos. Depois foi a vez de uma das etapas da Copa do Mundo no Japão, competiu na fita e nas maças acabando em 5º


Na etapa da França na Copa do Mundo de 2007, conquistou o ouro na geral, no arco, na fita e na corda, derrotando Anna Bessonova. E na etapa seguinte, ela seria bronze na geral e na corda, prata nas maças. Eis que chega o campeonato europeu. Olga Kapranova, Vera Sessina e Alina Kabaeva foram as escolhidas para participar e Evgenia Kanaeva ficaria como reserva. 





Na véspera da estreia delas no campeonato, Kabaeva lesiona o joelho, algo raríssimo em sua carreira. Finalmente chegou a vez de Zhenya para estrear pela equipe principal. Consegue o ouro na disputa por equipe e ainda conseguiu mais um ouro na fita. Como Kabaeva se recuperou a tempo para disputar o individual, Kanaeva ficou de fora.


Ao final do Europeu, Alina Kabaeva se aposenta e a vaga de ginasta nº1 da equipe estava aberta. Meses depois, Zhenya ajuda a equipe a novamente ganhar o ouro no Mundial de 2007 na Grécia.

Em 2008, ganhou diversas medalhas nas etapas da Copa do Mundo. E no Europeu daquele ano ganharia ouro na geral superando Anna Bessonova e Olga Kapranova. Mas o prêmio maior seria a convocação dela para disputar os jogos olímpicos de Pequim.



NAS OLIMPÍADAS...

Sem Alina Kabaeva e Irina Tchatchina, aposentadas, Irina Viner convocou Olga Kapranova com sua precisão incrível e Evgenia Kanaeva, que tinha a flexibilidade e agilidade de Kabaeva com a precisão e expressão corporal de Irina Tchatchina.


As favoritas eram  Olga Kapranova e a veterana Anna Bessonova com seus saltos e expressões marcantes, lembrando a dança. Kanaeva era favorita e mesmo chegando a Pequim como campeã europeia, não tinha tanto destaque porque não tinha tanta experiência internacional. Zhenya e Viner apostaram em séries com alta dificuldade para conseguir a medalha.


Nas classificatórias, Kanaeva ganhou quase tudo, mas foi mal no arco (já vimos esta história antes...) e permitindo a vitória de Kapranova com Bessonova bem próxima e uma surpreendente Inna Zhukova da Bielorrússia acompanhando de perto.





 Kanaeva marcou seu nome na história dos jogos, como a mais jovem ginasta a competir na fase final. Em entrevista, ela estava calma para a final e fez alguns erros.



Na final, Zhenya vinha liderando com alguma folga e faltando dois aparelhos (duas rotações). Olga Kapranova estava tentando tirar a diferença já que não foi tão bem na fita (literalmente) e poderia descontar a diferença nas maças. Porém ao iniciar sua série, ela se desequilibra e quase cai no chão, logo no exercício que ela era a melhor: o mundial. Para quem não sabe, o mundial é como uma ponte com uma perna levantada mas sem apoiar as mãos no chão. E sua nota despenca e acaba em 8º.


Com sua calma aliada a séries com alta dificuldade feita com precisão cirúrgica, Evgenia liderou de modo fácil, não dando chance alguma para as adversárias. E assim, Evgenia Kanaeva conquista sua primeira medalha de ouro nos jogos olímpicos, com 3,575 pontos de vantagem para a segunda colocada, a medalha de prata e surpreendente Inna Zhukova da Bielorrússia. Para ginástica, essa diferença foi muito muito grande. O bronze ficou com ucraniana Anna Bessonova. E Olga Kapranova com o erro nas maças,  acabou em quarto.





Na disputa por grupos, a Rússia conquistou o 3º ouro nessa modalidade. A China foi prata e a Bielorrússia foi bronze


DEPOIS...

Um pouco antes dos jogos de Pequim, a FIG (Federação Internacional de Ginástica) modificou totalmente o código de pontos. Aqueles movimentos incríveis junto com a flexibilidade absurda que rendia altas notas para Kanaeva, agora teriam pontuação baixa.



A FIG alegava que a ginástica rítmica estava se aproximando demais da ginástica artística devido a sequencia de exercícios cada vez mais elaborados e que essa mudança era para trazer coisas diferentes da ginástica artística. Decidiram que a gr deveria ser algo mais artístico, voltando as raízes quando era algo mais "dançado". Também queria mais segurança as suas ginastas,  por causas das inúmeras atletas se lesionando, até de forma grave, na tentativa de fazer exercícios e flexibilidade com extrema complexidade além que eu corpo aguentava.

As novidades do novo código eram a obrigatoriedade de passos de dança (pelo menos 3 segundos) e que os equilíbrios e pivots teriam maior pontuação de dificuldade. Pivot é um giro de 360º com um só pé no chão.



Mas que todos da comunidade da ginástica achavam mesmo que essas medidas eram para equilibrar a competição, já que Kanaeva ganhará com uma diferença absurda. Na teoria porque na prática as coisas seriam diferentes.

Praticamente, todas as ginastas teriam que começar do zero suas séries. Isso iria dificultar a vida de Zhenya. Mas trajetória dela não acaba aqui, continuará em Londres 2012. Aguarde o próximo e último capítulo das Meninas de Ouro.


FATOS
- O conjunto do Brasil participou (a terceira consecutiva) com Luana Faro, Daniela Leite, Tayanne Mantovaneli, Luisa Matsuo, Marcela Menezes Nicole Muller. Ficou em último na classificatória e não foi para a final :(


- Usain Bolt começou a sua supremacia nesta olimpíada, ganhando no 100m, 200m e no revezamento 4x100m.
- Parte desta biografia foi feita com base em uma entrevista de Evgenia. A entrevistadora era Alina Kabaeva.
- As meninas da equipe chamavam Evgenia de "irmã da Irina Tchatchina" devido a sua semelhança física e porque ambas nasceram na mesma cidade.

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